sábado, 2 de junho de 2012

Dois gostos incompatíveis

Não, senhores, os dois gostos a que me refiro no título ai em cima não são liberdade e mulheres...he he he...embora sejam tão incompatíveis quanto os dois gostos que motivam o post.

E quais são esses gostos? Beber e dirigir. Não, calma ai, guardem suas tochas, ó multidões de linchamento, não falei beber e dirigir como atos contínuos, por que por mais canalha que eu possa ser não sou burro nem irresponsável. Estou falando de beber, ponto. E noutra ocasião, dirigir. E pensando nisso agora, talvez eu tenha herdado tais gostos justamente do velho coronel.

Bebida nunca faltou na casa onde fui criado, embora ficasse sempre restrita ao universo dos so-called adultos. O velho coronel era bem chegado num whiskey, gostava de bebericar fazendo pose de John Wayne. Na verdade não posso dizer que tenha qualquer lembrança do velho de porre, ou de ter visto algum tipo de abuso em casa motivado pelo álcool. Os abusos e exageros em casa eram motivados pela alto grau de cudeferrismo do velho militar. Meu adorado irmão, atualmente conhecido como senhor-tenente-coronel-herdeiro-do-paunocuzismo, ganhou um Johnny Walker especial qualquer quando se formou no Barro Branco. Claro que eu, como filho problema tendendo ao bastardismo, nunca tive tal honra, mas isso nunca me fez falta. Foda-se o JW especial do velho coronel, eu mesmo compro minha própria bebida desde, sei lá, meus 14 anos talvez? E porra, lá se vão quase 30 anos enxugando todas, pobre-coitado do fiapo de corpo inchado que chamo de fígado...he he he...

O segundo gosto, dirigir, especialmente dirigir noite adentro por esse inferno paulistano, também aprendi na casa do coronel; afinal de contas, por lá filho homem aprende a dirigir logo aos 15 anos, pra só formalizar a habilitação rapidamente aos 18, afinal de contas onde já se viu homem que não dirige? Engraçado que pra minha irmã a pressão foi oposta, quando ela falou em tirar habilitação, já aos 19 anos, tomou um puta dum esporro por ser considerada "moderninha demais, quase uma puta", nas sábias palavras quadrupedes do senhor coronelão. Que exemplo de justiça e equilíbrio, não?

E juntamente com minhas deliciosas e inesquecíveis musas questionáveis, dirigir e beber formam o tripé de prazeres da minha vida. Ainda bem que consigo mesclar minhas musas com os outros dois...he he he...

Quando a noite é de beber, e a maioria das noites acabam sendo, tenho duas escolhas: ou bebo como hoje, em meu apartamento, olhando as luzes da cidade pela janela, ou desço até um dos meus botecos favoritos, que em sua maioria ficam a poucas quadras de onde moro, e me encharco perante os olhos do público, de preferencia na companhia volátil de alguma de minhas musas questionáveis. Gosto de beber, gosto mesmo. Gosto do sabor do malte ou do que for, gosto da forma como pensamentos chatos morrem afogados a cada gole, gosto como as mulheres ficam mais bonitas e suportáveis a medida que as doses se sucedem. Isso, sou um porco chauvinista, foda-se. Mas fato é, gosto muito de beber.

Assim como gosto demais de dirigir. Seja carro, moto, ou o que for, gosto do movimento, especialmente quando posso dirigir pelo simples prazer de estar em movimento, sem horário a cumprir ou destino certo. Claro que dirigir nessa cidade fica cada dia mais aborrecido, por causa do transito filho da puta. Por isso meu grande tesão é dirigir madrugada adentro. Simplesmente pegar meu carro e rodar, sem muita velocidade, apreciando o movimento, as luzes, as pessoas. Eventualmente passar num desses lugares lotados de candidatas a musas questionáveis, e olhar o movimento. As vezes acabo seguindo para um certo bairro da cidade, relembrando um certo prédio, um certo apartamento que não cheirava a gatos, apesar de sua dona deliciosa ser, como eu, uma apreciadora dos felinos. Assim como as vezes, e podem me chamar de canalha à vontade, sigo para certos endereços onde sei que encontrarei uma bela acolhida, não importando o horário. Basta uma ligação, uma enrolada numa musa questionável de outros tempos, e garanto uma vaga para estacionar meu velho carro, se é que vocês me entendem...he he he...e algumas horas divertidas e suadas depois, sempre seguimos nossos caminhos separados.

Ando conseguindo conjugar todos meus gostos de uma única vez, ando saindo com uma musa questionável de lábios sempre vermelhos, cabelos deliciosamente cacheados e da cor da noite, e com ela posso beber a noite toda que no final da madrugada rodamos pela cidade, ela lindamente sóbria ao volante, eu bêbado como de hábito sentado ao seu lado, a cabeça encostada na janela vendo os prédios passando, as luzes da cidade alaranjando tudo, uma paradinha eventual quando o tesão bate. Pensando bem, até que foi uma boa ideia ligar para ela para nos vermos hoje.