sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Chuck na igreja

Outro dia fui naquela igreja, meio escondida ali na Brigadeiro. Fiquei ali sentado no fundo da nave, enquanto algumas carolas circulavam pelo lugar, fazendo o que quer que elas façam. Nunca entendi bem os pequenos rituais católicos, aquele lance de se ajoelhar quando entra numa igreja, ou como se portar durante uma missa, ou como se deve agir perante, sei lá, uma estátua em tamanho natural de Jesus morto. Não era hora de missa nem nada, apenas uma igreja vazia, com seus bancos de madeira, seu altar, candelabros e vitrais e tudo o mais. Não sei bem o que fui fazer lá dentro, mas o clima do lugar me relaxou. Talvez a arquitetura da igreja, pequena, acanhada, tenha ajudado nessa sensação de conforto. Talvez eu tenha ido lá pra rezar, ou pelo menos pra conversar com Deus, ou Alguém-equivalente. Outro dia li em algum lugar que um desses astros do rock drogadões sempre considerou que Deus fosse mulher. Não sei, mas faz sentido pra mim, mas não pelos motivos positivos habituais – afinal de contas, quem pode foder a vida de um sujeito tão bem quanto uma mulher enraivecida, mimada e que quer o que quer, na hora que quer? Pra mim, parece bem com o Deus do Velho Testamento, aquele que reduzia cidades inteiras ao pó apenas para provar seu argumento. De qualquer forma, estava lá pensando em conversar com Ele (ou Ela, enfim...), e tentando entender em que pé está minha vida, ou só ficar por lá, sacando a atmosfera do lugar. Acho que já tinha mais de dez anos que não entrava numa igreja, afinal de contas não tenho muito o que fazer num lugar geralmente cheio de velhas e que serve um vinho ruim e em doses limitadas. Definitivamente, não é o meu tipo de lugar. Mas naquele final de tarde, a noite caindo lá fora, me senti legal, apenas sentado lá.
E no meio daquele silencio todo comecei a pensar, claro, nas minhas musas questionáveis. Não em alguma delas especificamente, mas nelas como um todo, e me toquei de uma coisa – não sei bem de onde as conheço! É assim, claro que a maioria delas eu esbarrei na noite, em algum boteco e pronto, sem maiores mistérios, easy come, easy go, cada um pro seu lado e sem chororô. Mas tem algumas delas, que por motivos aleatórios como ser legal demais ou meter bem demais, foram mantidas por perto ao longo do tempo. Ou pelo menos, ao longo de um período de tempo determinado e, principalmente, limitado. E dentre estas, existe um numero ainda mais limitado das que se tornaram minhas amigas, ou algo próximo de uma amiga (é difícil pracarai manter a amizade de uma mulher depois de deixar claro que a - foi ótimo comê-la, b - gostaria de comê-la de novo a qualquer momento e c - não, isso não significa nada além de sexo pra mim e principalmente, não significa que quero ser o namoradinho fofis dela). Mas algumas delas, bem poucas, acabaram de uma forma ou de outra se mantendo por perto. Claro que esse “por perto” é bem relativo, as vezes elas somem, assim como eu sumo, por semanas ou meses, mas quando nos esbarramos ou falamos de novo a coisa vai smooth, sem crises e chororôs. E ai fiquei pensando que é engraçado como vinculo essas musas ao meio de contato delas, por exemplo, tem a morena deliciosa da Aline, que é um exemplo típico de como uma mulher pode ficar ainda mais gostosa depois da maternidade (não, não é cria minha, é de um outro cacho dela, alias pensando bem ela nunca me contou direito a historia dessa gravidez, só sei que a maternidade fez muito bem a ela, em vários sentidos). Mas voltando, a Aline pra mim é sempre associada aos seus telefonemas altas horas da noite, geralmente conversamos por horas e acabamos marcando uma ponta pro final de semana seguinte, mas não saberia dizer, mesmo que dessa resposta dependa minha vida, de onde a conheço, tenho uma vaga impressão mas não saberia dizer com firmeza onde nos conhecemos, quem abordou quem, se tínhamos amigos em comum ou se nos esbarramos “ao acaso”, enfim, como foi que a coitada se enredou na minha vida.

E pensando na Aline, que quando estávamos mais próximos era cheia de dúvidas, incertezas, crises e instabilidades, pulando de um subemprego pro outro, se metendo com sujeitos ainda piores do que eu (acreditem-me, eu posso ser canalha, mas existem tipos muito piores por ai, vestidos de bons-moços, escondendo seus vícios e mazelas por trás de sorrisos atenciosos!); recentemente, após um sumiço de mais de dois anos, a reencontro tornada em mãe, com o trampo que ela sempre pediu aos céus, e encaminhada em outros aspectos que não veem ao caso. Conversamos por um bom tempo, não mais com a sofreguidão de tempos atrás (sempre que nos esbarrávamos o bicho pegava, se é que vocês me entendem...he...he...he...), mas sim com sinais claros de uma amizade que pôde se consolidar através do tempo. E fiquei feliz, tolo romântico que talvez eu seja, em vê-la bem. Mas relaxem, que esse é o único sinal de romantismo à vista no pedaço.

domingo, 25 de agosto de 2013

Cena de uma manhã chuvosa

Na verdade a cena não se passa bem numa manhã, mas sim na hora do almoço, mas como o titulo do post iria ficar muito longo se fosse " Cenas de um começo de tarde por volta do 12h30" ficaria muito estranho até mesmo para os padrões deste blog, semi abandonado mas ainda resistente, resolvi me permitir uma certa "liberdade poética".

Tudo começou umas semanas atrás, num elevador apertado na hora do almoço; mesmo sem querer, foi inevitável ouvir os lamúrios e impropérios. Mas vamos por partes: os "personagens" são um desses jovens casais irritantes, que não se destacam pela beleza, muito pelo contrário, o sujeito com aquela cara de infeliz, de quem se sujeita a aguentar uma mala reclamona na sua orelha o dia todo em troca do assim chamado amor, e a garota com cara daquelas filhas da puta que acham que a mulher só é feliz quando inferniza a vida do seu "morecuxo", arrastando na lama toda e qualquer noção de dignidade. Por força de um horário de almoço semelhante, eu já tinha sacado esses dois, o otário e a megera, os dois na casa dos seus vinte e pouquissimos anos, coincidentemente duas figuras magrelas. Um verdadeiro casal de suricatos.

E a pequena megera, sem se importar do elevador estar lotado de conhecidos e desconhecidos, seguia ralhando com seu namorado/noivo/whatever reclamando por ele ter cometido a gravíssima falta de sair pro almoço sem pegar um guarda-chuva, que onde já se viu isso, que ele nunca pensa em nada, que ela tem que pegar tudo, que aposto que esta chovendo lá fora, que ele era mesmo um inútil, e blá-blá-blá...

E assim descemos algo como dez andares, parando que nem trem de metrô; mesmo sem ve-los, podia facilmente imaginar o sujeito se curvando, humilhado, ou mesmo encolhendo como um personagem de cartoon.

Chegamos no térreo, e todos desceram do elevador, visivelmente aliviados em não ter mais que compartilhar daquela patetica cena. Mas, como este que vos fala gosta de ver a merda desandar de vez, fiquei por perto, e fui seguindo o casalzinho, que logo parou na porta do prédio. Na real, a jovem megera parou, e olhando com uma cara de fúria irracional, gritou com o otário algo como "tá vendo, num falei que estava chovendo?!?! Seu inutil, agora vou ter que voltar pra pegar a minha sombrinha, se vocÊ me ouvisse...blá-blá-blá...

E o otário ficou lá parado, debaixo de uma garoa fininha, bem fininha, dessas que nem molham direito, enquanto sua amada megera voltava para o saguão de entrada do prédio, batendo o pé e fazendo cara de limão chupado.

Segui em frente, e ao passar por ele não pude resistir: olhei bem pra cara do sujeito, e balançando a cabeça soltei um tsc-tsc-tsc...acredito que contribuindo para aumentar a humilhação do otário. Que aliás, merece se foder mesmo, já que se sujeita a passar por esse tipo de situação.