Outro
dia fui naquela igreja, meio escondida ali na Brigadeiro. Fiquei ali sentado no
fundo da nave, enquanto algumas carolas circulavam pelo lugar, fazendo o que
quer que elas façam. Nunca entendi bem os pequenos rituais católicos, aquele
lance de se ajoelhar quando entra numa igreja, ou como se portar durante uma
missa, ou como se deve agir perante, sei lá, uma estátua em tamanho natural de
Jesus morto. Não era hora de missa nem nada, apenas uma igreja vazia, com seus
bancos de madeira, seu altar, candelabros e vitrais e tudo o mais. Não sei bem
o que fui fazer lá dentro, mas o clima do lugar me relaxou. Talvez a
arquitetura da igreja, pequena, acanhada, tenha ajudado nessa sensação de
conforto. Talvez eu tenha ido lá pra rezar, ou pelo menos pra conversar com Deus,
ou Alguém-equivalente. Outro dia li em algum lugar que um desses astros do rock
drogadões sempre considerou que Deus fosse mulher. Não sei, mas faz sentido pra
mim, mas não pelos motivos positivos habituais – afinal de contas, quem pode
foder a vida de um sujeito tão bem quanto uma mulher enraivecida, mimada e que
quer o que quer, na hora que quer? Pra mim, parece bem com o Deus do Velho
Testamento, aquele que reduzia cidades inteiras ao pó apenas para provar seu
argumento. De qualquer forma, estava lá pensando em conversar com Ele (ou Ela,
enfim...), e tentando entender em que pé está minha vida, ou só ficar por lá,
sacando a atmosfera do lugar. Acho que já tinha mais de dez anos que não
entrava numa igreja, afinal de contas não tenho muito o que fazer num lugar
geralmente cheio de velhas e que serve um vinho ruim e em doses limitadas.
Definitivamente, não é o meu tipo de lugar. Mas naquele final de tarde, a noite
caindo lá fora, me senti legal, apenas sentado lá.
E
no meio daquele silencio todo comecei a pensar, claro, nas minhas musas
questionáveis. Não em alguma delas especificamente, mas nelas como um todo, e
me toquei de uma coisa – não sei bem de onde as conheço! É assim, claro que a
maioria delas eu esbarrei na noite, em algum boteco e pronto, sem maiores
mistérios, easy come, easy go, cada um pro seu lado e sem chororô. Mas tem
algumas delas, que por motivos aleatórios como ser legal demais ou meter bem
demais, foram mantidas por perto ao longo do tempo. Ou pelo menos, ao longo de
um período de tempo determinado e, principalmente, limitado. E dentre estas,
existe um numero ainda mais limitado das que se tornaram minhas amigas, ou algo
próximo de uma amiga (é difícil pracarai manter a amizade de uma mulher depois
de deixar claro que a - foi ótimo comê-la, b - gostaria de comê-la de novo a
qualquer momento e c - não, isso não significa nada além de sexo pra mim e
principalmente, não significa que quero ser o namoradinho fofis dela). Mas
algumas delas, bem poucas, acabaram de uma forma ou de outra se mantendo por
perto. Claro que esse “por perto” é bem relativo, as vezes elas somem, assim
como eu sumo, por semanas ou meses, mas quando nos esbarramos ou falamos de
novo a coisa vai smooth, sem crises e chororôs. E ai fiquei pensando que é
engraçado como vinculo essas musas ao meio de contato delas, por exemplo, tem a
morena deliciosa da Aline, que é um exemplo típico de como uma mulher pode
ficar ainda mais gostosa depois da maternidade (não, não é cria minha, é de um
outro cacho dela, alias pensando bem ela nunca me contou direito a historia
dessa gravidez, só sei que a maternidade fez muito bem a ela, em vários
sentidos). Mas voltando, a Aline pra mim é sempre associada aos seus
telefonemas altas horas da noite, geralmente conversamos por horas e acabamos
marcando uma ponta pro final de semana seguinte, mas não saberia dizer, mesmo
que dessa resposta dependa minha vida, de onde a conheço, tenho uma vaga
impressão mas não saberia dizer com firmeza onde nos conhecemos, quem abordou
quem, se tínhamos amigos em comum ou se nos esbarramos “ao acaso”, enfim, como
foi que a coitada se enredou na minha vida.
E
pensando na Aline, que quando estávamos mais próximos era cheia de dúvidas,
incertezas, crises e instabilidades, pulando de um subemprego pro outro, se
metendo com sujeitos ainda piores do que eu (acreditem-me, eu posso ser canalha,
mas existem tipos muito piores por ai, vestidos de bons-moços, escondendo seus
vícios e mazelas por trás de sorrisos atenciosos!); recentemente, após um
sumiço de mais de dois anos, a reencontro tornada em mãe, com o trampo que ela
sempre pediu aos céus, e encaminhada em outros aspectos que não veem ao caso.
Conversamos por um bom tempo, não mais com a sofreguidão de tempos atrás
(sempre que nos esbarrávamos o bicho pegava, se é que vocês me
entendem...he...he...he...), mas sim com sinais claros de uma amizade que pôde
se consolidar através do tempo. E fiquei feliz, tolo romântico que talvez eu
seja, em vê-la bem. Mas relaxem, que esse é o único sinal de romantismo à vista
no pedaço.
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