Dia desses passei por uma situação, no mínimo,
estranha na Corretora. Cheguei na salinha do café, aquele tradicional antro de
fofocas, olhares e xavecos (pqp, Chuck, xaveco? Não tinha um termo menos
adolescente não?), praticamente implorando por uma dose de cafeína pressurizada
(um dos meus mais queridos vícios!) e encontrei um pessoal da Corretora, não
trabalham na minha equipe mas dentro do mesmo ambiente. Bons-dias devidamente
distribuídos, peguei minha dose dupla de espresso e fiquei por ali, encostado no balcão,
acenando com a cabeça nos momentos certos e fingindo prestar atenção no papinho
furado tipo você-viu-quem-vai-entrar-no-Big-Brother?!?! (tentando cumprir uma das minhas
resoluções fixas de ano-novo, aprender a disfarçar meu desprezo por esse tipo
de situação e fingir um grau maior de interesse na humanidade em geral).
Reparei então num casal batendo papo, não casal no sentido fofo-irritante do termo, mas apenas uma dupla mista
homem-mulher, e pensando que eles não poderiam estar em pontos mais opostos,
mas de certa forma complementares, na vida – na semana anterior ao Natal ele
foi pai e ela perdeu o avô (na verdade ambos estavam voltando de suas
respectivas licenças naquele dia). E ai fiquei por lá, bebericando meu café,
continuando com os hum’s,
a-ham’s, nas horas certas
para bancar o social (Chuck, o social, que piada!) mas pensando neles, no ciclo
da vida, no nascimento e na morte, vendo o carinha mostrando fotos via celular
do new baby, mas no fundo
focando nela, lembrando da forma como ela, uma moça geralmente sorridente e
festiva, extremamente simpática, havia desmoronado em choro e tremores e
desespero profundo ao receber pelo celular a noticia da morte do avô (aliás,
jeitinho mais sensível de se avisar alguém da morte de um avô, não?), que pelo
jeito devia ser uma figura incrível para causar tamanha comoção numa mulher já
adulta. E ai comecei a pensar que certamente quando chegar minha hora
provavelmente não vai ter ninguém chorando assim, porra, cheguei a pensar que
do jeito que as coisas são no meu velório vai se formar uma fila de ex-musas
questionáveis para darem uma conferida e verem se o mundo realmente estava
livre de um sujeito desprezível como eu, talvez uma ou outra se despeça
cuspindo na minha cara, mas daí pensei bem e me liguei que elas certamente nem
se dariam ao trabalho de aparecer, provavelmente nem se lembrariam de terem se
enroscado comigo by the way. Alias, divertido pensar que se eu morrer em casa
só vão se ligar da minha morte depois de uns dias, quando o cadáver começar a
feder pra valer. Daí vão chamar o sindico, que vai chamar os bombeiros, que
irão botar a porta abaixo na base da machadada, apenas para encontrar meu
cadáver seco, duro (ou talvez já gosmento e caindo de podre) sentado na minha
poltrona favorita, talvez com os pés apoiados na janela, como se estivesse
contemplando a eternidade através da janela, um filtro de cigarro seco entre os
dedos, um copo de whiskey quente na mesinha de lado, daí vão chamar alguém da
minha família pra reconhecer o corpo e dar um destino ao que estiver dentro do
apê - pra quem será que vai sobrar essa desagradável missão? Tomara que acabe
sobrando pro meu querido irmão dotô
otoridade, e não pra minha doce pero
no mucho irmã. Já posso ver a
cara de nojo dele entrando aqui...he...he...he...
Porra, já começo a ficar irritado só de imaginar aquele povo da
famiglia rondando por aqui, olhando tudo com cara de desprezo, mandando jogar
tudo fora na primeira caçamba de lixo que acharem. Ou quem sabe, por algum
motivo sobrenatural desconhecido, algum dos meus sobrinhos tenha herdado o meu
gosto pra musica de perdedores, whiskey vagabundo e musas questionáveis e
resolva tomar posse do apartamento, prolongando seu uso como covil de um
canalha? Não, Chuck, seria sorte demais para uma herança tão suja quanto a sua.
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