segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Pensando sobre a vida e a morte


Dia desses passei por uma situação, no mínimo, estranha na Corretora. Cheguei na salinha do café, aquele tradicional antro de fofocas, olhares e xavecos (pqp, Chuck, xaveco? Não tinha um termo menos adolescente não?), praticamente implorando por uma dose de cafeína pressurizada (um dos meus mais queridos vícios!) e encontrei um pessoal da Corretora, não trabalham na minha equipe mas dentro do mesmo ambiente. Bons-dias devidamente distribuídos, peguei minha dose dupla de espresso e fiquei por ali, encostado no balcão, acenando com a cabeça nos momentos certos e fingindo prestar atenção no papinho furado tipo você-viu-quem-vai-entrar-no-Big-Brother?!?! (tentando cumprir uma das minhas resoluções fixas de ano-novo, aprender a disfarçar meu desprezo por esse tipo de situação e fingir um grau maior de interesse na humanidade em geral). Reparei então num casal batendo papo, não casal no sentido fofo-irritante­ do termo, mas apenas uma dupla mista homem-mulher, e pensando que eles não poderiam estar em pontos mais opostos, mas de certa forma complementares, na vida – na semana anterior ao Natal ele foi pai e ela perdeu o avô (na verdade ambos estavam voltando de suas respectivas licenças naquele dia). E ai fiquei por lá, bebericando meu café, continuando com os hum’s, a-ham’s, nas horas certas para bancar o social (Chuck, o social, que piada!) mas pensando neles, no ciclo da vida, no nascimento e na morte, vendo o carinha mostrando fotos via celular do new baby, mas no fundo focando nela, lembrando da forma como ela, uma moça geralmente sorridente e festiva, extremamente simpática, havia desmoronado em choro e tremores e desespero profundo ao receber pelo celular a noticia da morte do avô (aliás, jeitinho mais sensível de se avisar alguém da morte de um avô, não?), que pelo jeito devia ser uma figura incrível para causar tamanha comoção numa mulher já adulta. E ai comecei a pensar que certamente quando chegar minha hora provavelmente não vai ter ninguém chorando assim, porra, cheguei a pensar que do jeito que as coisas são no meu velório vai se formar uma fila de ex-musas questionáveis para darem uma conferida e verem se o mundo realmente estava livre de um sujeito desprezível como eu, talvez uma ou outra se despeça cuspindo na minha cara, mas daí pensei bem e me liguei que elas certamente nem se dariam ao trabalho de aparecer, provavelmente nem se lembrariam de terem se enroscado comigo by the way. Alias, divertido pensar que se eu morrer em casa só vão se ligar da minha morte depois de uns dias, quando o cadáver começar a feder pra valer. Daí vão chamar o sindico, que vai chamar os bombeiros, que irão botar a porta abaixo na base da machadada, apenas para encontrar meu cadáver seco, duro (ou talvez já gosmento e caindo de podre) sentado na minha poltrona favorita, talvez com os pés apoiados na janela, como se estivesse contemplando a eternidade através da janela, um filtro de cigarro seco entre os dedos, um copo de whiskey quente na mesinha de lado, daí vão chamar alguém da minha família pra reconhecer o corpo e dar um destino ao que estiver dentro do apê - pra quem será que vai sobrar essa desagradável missão? Tomara que acabe sobrando pro meu querido irmão dotô otoridade, e não pra minha doce pero no mucho irmã. Já posso ver a cara de nojo dele entrando aqui...he...he...he...
Porra, já começo a ficar irritado só de imaginar aquele povo da famiglia rondando por aqui, olhando tudo com cara de desprezo, mandando jogar tudo fora na primeira caçamba de lixo que acharem. Ou quem sabe, por algum motivo sobrenatural desconhecido, algum dos meus sobrinhos tenha herdado o meu gosto pra musica de perdedores, whiskey vagabundo e musas questionáveis e resolva tomar posse do apartamento, prolongando seu uso como covil de um canalha? Não, Chuck, seria sorte demais para uma herança tão suja quanto a sua.


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